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Personagens da vida

  • Diogo Augusto
  • 14 de dez. de 2015
  • 2 min de leitura

Se você não se deu conta, a arte está invadindo a vida.

Dos palcos e dos sets de filmagem para as ruas, a arte ocupa também os ambientes de trabalho e os lares de boa parte das pessoas. Todos precisam, diariamente, usá-la para lidar com as mais diferentes situações. Seja para dar conta dos vários problemas ao mesmo tempo — como um equilibrista —, seja como um pintor, que manuseia seu pincel para sonhar, mesmo diante dos empecilhos que a vida oferece.

A arte de interpretar também é usada no cotidiano. Todos, de alguma forma, já encarnaram pessoas ou comportamentos que não são originalmente seus.

Interpretar personagens para se livrar de situações embaraçosas — como falar que não vai a um evento com um amigo chato, conquistar uma vaga de emprego demonstrando ser quem não é, ou mentir com a maior cara lavada para sua mãe que esteve em algum lugar, sendo que estava em outro, fazendo algo totalmente diferente.

Essas são algumas das vezes em que nos apropriamos momentaneamente de máscaras outras para compor nossa identidade. O problema é quando o personagem faz de você uma pessoa ruim, quando ele atravessa seu corpo e chega à alma, consumindo você aos poucos. É como se a maquiagem ou o figurino se fundissem ao seu corpo. Esse processo se torna mais evidente quando as palavras são minunciosamente calculadas, quando não são ditas diretamente para quem é de interesse, quando são usadas somente para agradar a opinião alheia ou não criar nenhum tumulto aparente.

Ser e viver dessa forma pode chegar a níveis inimagináveis quando se trata de ganhar vantagem às custas dos outros. Os personagens mais perigosos são aqueles que fazem o possível para benefício próprio e enganam com um lindo sorriso, boas palavras de convencimento e boas doses de frieza. Em alguns casos, são desmascarados e punidos. Em outros, voltam para as ruas com o mesmo figurino que lhes caracterizou.

Existe também a categoria “personagens celebridades”, aqueles que todos conhecem, que sempre vestem a mesma roupa, executam os mesmo gestos e, mesmo assim, continuam logrando com a enganação alheia. Geralmente eles aparecem de quatro em quatro anos, e podem ser chamados de políticos. Esses personagens costumam desviar dinheiro público, além de prometer dezenas de melhorias em época de campanha eleitoral e esquecer oportunamente de cumprí-las quando já têm o mandato garantido.

E continuam sorrindo em fotos com a máscara de benfeitor. Seria injusto colocar todos nessa categoria, ou dizer que todos interpretam pessoas que não são. Mas, cá entre nós, diante das cenas recorrentes, é impossível não rotulá-los com essa etiqueta.

Vivemos em uma época em que é quase impossível ser autêntico ou ter opinião própria. Seguir esse rumo seria remar contra a maré. Mas acredito que ainda existam pessoas dispostas a pagar o preço de ser “de verdade” 24 horas por dia. Já dizia Oscar Wilde: “A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida”. Talvez essa frase dita pelo escritor explique o fenômeno da multiplicação dos máscaras sociais. Prefiro que elas fiquem no palco e deixem o mundo para pessoas de carne e osso.

(El hacedor de máscaras, de Carlos Orduña Barrera — 2008)

 
 
 

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