Moçx, seu relacionamento é abusivo
- Suelem Ribeiro
- 4 de ago. de 2016
- 3 min de leitura

Foto: Pinterest
Não. Agressão física não é a única forma de abuso que existe nos relacionamentos. Mas identificar essas situações quando não há violência evidente, pode não ser uma tarefa tão fácil. Os comportamentos abusivos não se limitam a um gênero ou tipo de relacionamento, podem ocorrer das mais diversas formas, entre amigos, com a mulher sendo a abusadora, entre casais homossexuais ou heterossexuais.
Segundo a psicóloga Fabiane Kling, os sinais deste tipo de relacionamento são sutis e passam pelo assédio moral, que vai desenvolvendo uma dependência psicológica da vítima em relação ao agressor. Assim, o abusado se sente incapaz de viver e se manter fora do relacionamento. Segundo ela, é preciso observar o comportamento da vítima.
“Elas costumam apresentar alguns comportamentos característicos como o isolamento e o distanciamento de familiares e amigos, como uma forma de esconder o que tem vivido. Já o abusador apresenta um comportamento totalmente manipulador, controla compromissos, companhias, horários e lugares frequentados pela vítima”, explica.
A estudante Amanda Ferreira, de 21 anos, acredita nunca ter vivido um relacionamento abusivo, mas vê de perto um amigo sofrer com isso. “Depois que ele começou a namorar, a gente não pode mais se ver. Até entendo ela ter ciúmes de mim, mas acontece que agora ele está super distante de todos os amigos dele, porque a namorada só deixa ele sair com ela e com os amigos dela”. Amanda diz que já conversou com a vítima, que concordou que o namoro é abusivo, mas ele teria dito que a ama e não consegue terminar a relação.

Foto: Reprodução/Internet
Fabiane explica que a relação de dependência que se estabelece muitas vezes impede o agredido de perceber em que relacionamento foi se meter. A “trama” é muito bem feita e o abusador vai da violência extrema às demonstrações mais calorosas de afeto, estimulando na vítima um sentimento de que ela provocou o comportamento agressivo do outro, gerando culpa e reforçando a dependência. O agressor usa o amor que a vítima sente como arma.
Outro exemplo dessa situação é o caso da vendedora Carolina*, de 25 anos. Ela sofreu abuso durante um relacionamento de três anos, que terminou há cerca dois meses. Durante o tempo em que estiveram juntos, o namorado escolhia suas roupas, a chamava de gorda e era extremamente ciumento.
“Minha mãe me falava para dar um basta, mas eu não conseguia, tinha a falsa esperança de que tudo ia mudar e achava que o que sentia por ele não se repetiria com mais ninguém.” O que a fez pôr um basta na relação e perceber que ele nunca mudaria, foi quando ele a empurrou durante uma discussão. “Após conseguir me livrar desse relacionamento a minha autoestima voltou e parece que as coisas começaram a fazer sentido novamente”, afirma.
A psicóloga Fabiane Kling ressalta que existe a possibilidade de um agressor mudar seu comportamento, porém, isso é raro, requer tratamento psicológico e, em alguns casos, até medicamentos, já que este comportamento, em geral, é resultado de transtornos mentais ou de agressões sofridas no passado. Os efeitos tendem a ser sentidos ao longo do tempo e de acordo com a intensidade das agressões psicológicas ou físicas.
Fabiane também diz que na maioria das vezes a vítima não consegue perceber que se trata de um comportamento abusivo, seguindo no relacionando e justificando o comportamento do parceiro. “Provavelmente ela sentirá que tem algo errado, que está triste permanentemente, mas sente dificuldade em encarar os fatos e tomar a decisão de se afastar. Por isso, familiares e amigos precisam ajudar nesta tomada de consciência, sem julgar ou interferir, mas ajudando a reconhecer os problemas vividos”, diz.
A vítima precisa ter coragem para vasculhar sentimentos e impressões que o relacionamento causa. E sim, a pessoa precisa perceber isso, refletindo sobre o relacionamento e levanto as seguintes questões. “Faço só o que meu parceiro quer? Como me sinto em relação à forma como ele reage? tenho medo? Fico justificando o comportamento do outro o tempo todo ou contando meias verdades? Me sinto culpado pelo comportamento do outro? Tenho medo da reação dele caso eu termine o relacionamento?”. Se a maioria das questões foram positivas, o primeiro passo é a consciência de que algo está errado, para então, decidir pelo término da relação. Caso seja difícil fazer isso, a procura de um profissional pode ajudar.
*Nome fictício, para preservar a identidade da fonte.
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