Quem tem dedo vai à Roma
- Gian Rezende | CC (BY-NC-SA)
- 23 de fev. de 2016
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“Saí de caminhada pelas estradas caminhando a pé. Pedindo carona e o violão nas costas eu fui pra São Tomé.” (Cogumelos Azuis - Ventania)
Vida de estudante é complicada, ainda mais para aqueles que vivem longe de suas famílias e estão cursando a graduação em outra cidade. Além dos problemas para se estabelecer, outra grande dificuldade é na hora de voltar para casa. Buscando formas de economizar nos gastos com passagens, alguns estudantes preferem as caronas para ir e voltar de sua cidade.
Pouco se sabe sobre o surgimento da prática da carona, já que não há registros que comprovem quando esse costume surgiu. De acordo com John Thomas Schlebecker, autor de “An Informal History of Hitchhiking” (1958), o provável início foi durante a Primeira Guerra Mundial, quando os soldados costumavam pedir carona nos fins de semana. Na década de 20 essa prática foi consolidada devido ao “boom” da indústria automobilística. Schlebecker cita o caso de J. K. Christian, que percorreu mais de 3000 milhas em 1921, em uma viagem de aproximadamente um mês. Nesse trajeto, Christian fez um percurso diário de em média 100 milhas apenas pegando carona.
O jornalista mineiro Lucas Machado produziu ano passado um documentário chamado “A bordo do polegar” que mostra toda a tradição envolvida na prática da carona e as necessidades pelas quais os caroneiros passam à beira das estradas. Lucas é natural de Ouro Fino e quando foi cursar Jornalismo em São João Del Rei, em 2012, virou um adepto da carona quando queria voltar para casa. Surgiu daí a ideia para seu trabalho de conclusão de curso: “Conheci a carona através de um amigo e desde quando comecei a pegar, alguns meses depois de me mudar pra lá, tive a ideia de produzir um webdocumentário. Os anos de faculdade serviram para eu aprender algumas técnicas de audiovisual e para executar a ideia final.”
Lucas tentou abordar o tema de uma forma diferente, mostrando as relações de troca que acontecem entre quem pega carona e quem a oferta. “Trabalhei a questão da colaboração coletiva e as relações de troca que existem dentro desse universo. Acho que fiz da carona mais do que uma forma de se locomover, quis mostrar a troca de informações e relações que quase não se veem mais no mundo atual. A boa vontade de quem dá é retribuída com uma troca de conhecimento, com a convergência de universos que, até aquele momento, eram totalmente desconhecidos.”
A bordo do Polegar: Documentário lançado em 2015 | Lucas Machado
Para além dos benefícios dessa prática, existe uma modalidade que vêm gerando polêmica nas redes sociais: aquelas caronas combinadas pela Internet. No Facebook é possível encontrar vários grupos onde diariamente é oferecido transporte para diversas localidades do país. É possível buscar vagas em percursos regionais e também encontrar grupos com oferta de carona para lugares mais distantes. De acordo com a Resolução nº 233/2003, da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), realizar o transporte interestadual ou internacional de passageiros sem autorização ou permissão da Agência, pode gerar multa acima de R$ 5 mil. Também no Código de Trânsito Brasileiro há uma restriçao relacionada às caronas: o condutor só pode exercer atividade remunerada ao volante se ele concluir cursos e exames de saúde específicos. Por outro lado, a lei permite a prática quando é feita de maneira solidária.
Quem defende esse tipo de carona combinada, acredita que o valor cobrado é apenas uma ajuda de custo para a gasolina, e não uma forma de pagamento ao motorista. Luan Dornella é estudante de Artes na UFJF e já viajou de carona de Juiz de Fora até Belo Horizonte e de Búzios até Juiz de Fora. Ele acredita que a cobrança é uma maneira de dividir custos: “Quando você vai em um bar com um amigo os dois dividem a conta no final. Acredito que as caronas combinadas também funcionam assim. Quando você vai de carona com alguém e paga trinta, quarenta reais pela viagem é um modo de ajudar a pessoa que viajaria sozinha e arcaria com todos os custos. No final é bom para os dois lados.” Luan ainda cita o fato de a viagem ser no geral mais rápida e confortável: “Ônibus além de caro tem aqueles problemas de sempre. Demora muito, para em várias cidades. É meio solitária a viagem e desconfortável dependendo de quem senta ao seu lado.”
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