Dois lados da mesma viagem
- Natalia Reis
- 2 de mar. de 2016
- 2 min de leitura
Transformar histórias de vida em crônica é uma grande responsabilidade. Quando cheguei ao terminal rodoviário em busca de relatos daqueles que passam por ali todos os dias, bateu um breve desespero ao pensar em descrever as histórias e experiências de uma ou duas pessoas. Muito mais que isso, me permiti somente observar durante alguns longos minutos e senti a necessidade de me colocar no lugar do outro. Foi quando passei a ser, eu mesma, ponto de embarque e desembarque de uma pá de histórias.
Me tornei parte do cotidiano de quem passa por ali a trabalho, passeio ou necessidade, fui espectadora da vida de pessoas, parte do caminho. Descobri que aquela aparência fria, intacta e imóvel fazia de mim uma pedra sem emoções, mas a cada história que se cruzava ou que passava por ali era a possibilidade de uma breve mudança de perspectiva.
Convivi de perto com promessas e sonhos, expectativas e frustrações, sorrisos e lágrimas de quem vive na inconstante rotina do vai e vem. Aprendi a decifrar a urgência de cada passo apressado, calmo ou ansioso, traduzir em cada olhar o que muitas palavras são incapazes de expressar. Ouvi de muitas vozes que nada dói mais que a necessidade de viver em um lugar querendo estar em outro e percebi que a ausência e a distância são companheiras duras e constantes na vida do homem.
Chorei o choro daqueles que precisaram dizer adeus, sorri com aqueles que foram e conseguiram voltar, ouvi relatos angustiantes daqueles que contaram histórias de muitos que embarcaram, mas, que na urgência de viver e descobrir o novo, deixaram a pressa ultrapassar o sinal e nunca conseguiram chegar no destino desejado.
Alguns passam por aqui em busca de um lugar que possam lhes dar renovação, esperança e uma nova perspectiva, outros estão à procura de algo que não sabem o que é. Muitos não levam nada além de livros, roupas e um maço de cigarro.
Observar vidas tornou-se muito mais que uma distração para matar o tédio e buscar inspiração. Foi um exercício de tempo e paciência, achar em meio à multidão algo que despertasse minha atenção e me fizesse acreditar nas infinitas rotas da vida.
Fui tomada pela necessidade de fazer parte daquele cenário que já se tornou a casa de muita gente. Apenas um detalhe no caminho. Apenas plataforma. Espera. Embarque ou desembarque.

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