De Juiz de Fora para o mundo
- Carol Mendes, Isabella Dias
- 8 de mar. de 2016
- 7 min de leitura
Cidades, estados e até países. A trajetória de músicos e bandas permeia com frequência esses espaços, permitindo novas experiências a cada apresentação em um lugar diferente. Para os iniciantes, fazer shows com públicos de outros locais é sempre um objetivo almejado. Ao longo da carreira os lugares se repetem, mas as vivências trazem novas características. Que histórias essas viagens guardam?
Tendo o "roots, rock, reggae" como lema, a banda Onze:20 é atualmente motivo de orgulho para os juiz-foranos. Na estrada desde 2006, o êxito do grupo vem se consolidando nos últimos anos, com presenças frequentes em programas de televisão, músicas em trilhas de novelas e álbuns sucesso de vendas. "Apesar de super prazerosa, a rotina de viagens é um pouco complicada, com vários desafios diários. Mas estamos vivendo nosso sonho e não trocaríamos essa vida por nada", celebra Athos Santos, tecladista da banda.
Um dos destaques da carreira da banda no ano passado foi a indicação do CD "Vida Loka" ao Grammy Latino, na categoria Melhor Álbum Pop Contemporâneo. Durante a premiação, o grupo foi o único representante brasileiro a tocar no evento, que aconteceu em Las Vegas. Mas engana-se quem pensa que essa foi a primeira experiência internacional dos rapazes. Em 2014, a banda já havia se apresentado no Japão. "Quando recebemos o convite para tocar no Japão nem acreditamos. A ficha só caiu quando já estávamos dentro do avião, a caminho do país. Os shows foram incríveis." A primeira apresentação em terras orientais aconteceu na cidade de Ota, próximo a Tokio. O público era um misto de brasileiros e japoneses e, segundo Athos, foi sensacional vê-los cantando e dançando as músicas do grupo. Já o segundo show aconteceu em Hamamatsu, no tradicional Brazilian Day. Para a banda, esse é considerado um dos shows mais importantes da carreira.

A banda no tapete vermelho da Cerimônia de Premiação do Grammy | Foto Divulgação
Formada atualmente por Vitin (vocais), Fábio Mendes (bateria), Marlos Vinícius (baixo elétrico), Chriz Baumgratz (guitarra solo), Fabio Barroso (guitarra base) e Athos Santos (teclado), a Onze:20 pretende alçar novos voos internacionais sempre que possível, conciliando com a rotina de apresentações por todo o Brasil. Seja na estrada ou no ares, o clima é de amizade durante as viagens. "Somos um time e, principalmente, amigos de longos anos e essa amizade vai muito além dos palcos. Viajamos todos juntos e quando a logística nos permite algumas horas livres, a zueira não tem fim. Só de estarmos juntos, a festa já está completa", finaliza Athos.
Outra banda que leva o nome de Juiz de Fora para todo o país é a Strike. O início foi em 2003, quando cinco amigos (Marcelo, André, Rodrigo, Cadu e Fabio) se reuniram e decidiram tocar nas casas noturnas da cidade. No começo, a banda fazia apenas versões de clássicos do rock. “Depois de um ano e meio nós decidimos apostar no trabalho autoral. Em 2006, disponibilizamos uma demo virtual e, a partir daí, recebemos propostas de quase todas as gravadoras da época”, recorda Marcelo Mancini, vocalista. A primeira migração profissional dos meninos aconteceu no final de 2006, quando fecharam parceria com a DeckDisc e se mudaram para o Rio de Janeiro. Através da gravadora, em 2007, foi lançado o primeiro CD da banda, intitulado “Desvio de Conduta”. Nele estão faixas de sucesso como “Aquela História”, “O Jogo Virou” e “Paraíso Proibido”, música que foi tema de abertura da temporada da novela Malhação.

Apresentação do Strike em Santos, São Paulo | Foto: Luringa
Dois anos depois, com a troca de gravadora, o Strike se mudou novamente, desta vez para São Paulo, onde foi agenciado pelo produtor Rick Bonadio. Em 2010 lançaram o segundo álbum da carreira, “Hiperativo”, e tiveram mais uma canção emplacada em Malhação, o single “No Veneno”. A partir daí, a capital paulista se tornou a casa dos músicos e novas criações surgiram, como o terceiro disco da banda, chamado "Nova Aurora", com produção de Tadeu Patolla.
No ano seguinte, o grupo passou por reformulações. O baterista Cadu deixou de fazer parte da equipe e Bruno Graveto, ex integrante do Charlie Brown Jr. assumiu as baquetas. Em 2014, mais uma mudança: o baixista Fabio decide continuar a carreira de músico em outra banda, a Onze:20, e Léo Pinotti entra em seu lugar. Naquele ano, a banda embarcou para a Califórnia, EUA, onde gravou o clipe da música “Sol de Paz”.
O trabalho mais recente do Strike é o disco “Collab #1 - De volta às origens”, divulgado no final de 2015. O álbum conta com a participação de outros cantores, como Hélio Bentes, do Ponto de Equílibrio, e o rapper Rael. Além disto, os fãs do grupo podem aguardar a segunda parte do trabalho, que terá como título “Collab #2”. Segundo Marcelo, a mudança foi essencial para que o trabalho da banda fosse reconhecido, já que existem mais oportunidades em cidades grandes, como Rio e São Paulo. “A principal diferença é que em São Paulo, por exemplo, existe uma cena musical maior, mais oportunidades, mais movimentos, o que não quer dizer mais talento. Juiz de Fora é uma cidade rica em exportar bons músicos, e acredito que o acontecimento do Strike pode ter impulsionado muita gente a tentar também, sem medo.” Atualmente a banda tem shows marcados em Maringá, Londrina, Curitiba, Bauru e São Paulo.
Um reality para alavancar a carreira
A Obey! honra sua origem mineira e vem conquistando aos pouquinhos o coração do público brasileiro. A prova disso aconteceu em São Paulo, em 2014, quando a banda conquistou um dos palcos do reality show organizado pela Sony Music, Breakout Brasil. A Obey! ficou entre os 12 finalistas de um total de 6 mil bandas e artistas. Para o baixista Geraldo Alvarenga, a participação no programa foi muito importante na formação deles, uma vez que aprenderam a lidar com a pressão psicológica para enfrentar os desafios propostos na TV. Depois, tudo ficou mais fácil de lidar: “Foi uma experiência única, qual nunca tínhamos tido até então. Conhecemos muitos músicos e pessoas boas. Gente de talento, músicas que gostamos e fizemos amizades.”

Juiz de Fora sendo representada pela Banda Obey! no palco do Breakout Brasil | Produção Breakout Brasil
Desde então, a banda já passou por várias cidades, como as vizinhas São João Nepomuceno e Leopoldina, e também pelo estado do Rio de Janeiro, Porto Alegre e São Paulo. Geraldo revela que sente a diferença do público: “Em Juiz de Fora, na maioria das vezes, o público tá mais a fim de sair pra curtir a noite e não pra conhecer um som novo, uma banda nova. Em outras cidades varia, tem lugar que não aparece ninguém pra ver o show, que nunca ouviram falar da banda, mas o público anima como se fosse o último de suas vidas. Isso tem a ver com a cena musical da cidade, como é tratada a cultura e seus músicos.”
Só no pagodinho
De um show de talentos no colégio ao o pé na estrada, os meninos do Alquimia estão conquistando novos públicos fazendo shows pelas cidades de Minas Gerais e Rio de Janeiro. O integrante do grupo, Alexandre Ronzani conta que é uma experiência incrível estar em contato com uma plateia diferente, já que sempre foram recebidos com muito carinho, respeito e admiração. Para eles, esses são os principais fatores que os motivam a continuar trabalhando e melhorando cada vez mais. “Nos shows fora de JF, a satisfação está sendo a receptividade e aceitação do público. Graças a Deus e a um trabalho que vem sendo feito com muito amor e profissionalismo, por onde passamos as pessoas pedem nossa volta e curtem bastante nossas apresentações.”
Com repertório de músicas autorais e homenagens a outros artistas, o grupo já passou por Andrelândia, Ubá, Três Rios, Rio de Janeiro e Angra dos Reis, em que fizeram seu primeiro show fora da cidade. Alexandre revelou que o grupo já passou por dificuldades na estrada, como a van estragar na viagem, ter show ser cancelado pela chuva, chegar no local e não ter sinal de celular e até mesmo fazer um show pra cem pessoas. “Com certeza é uma experiência válida, a "rodagem" é imprescindível para o crescimento de qualquer artista.”

Os meninos do Alquimia se divertindo na estrada para Areal |Alexandre Ronzani
O público move a carreira das bandas. Alexandre diz gostar de fazer shows em todo canto, mas que é bastante complicado comparar as plateias, afinal todas têm suas peculiaridades. “Aqui, por ser nossa cidade natal, a galera já conhece nosso trabalho, nossas músicas e cria uma relação mais próxima”, comemora, garantindo, entretanto, que suas as apresentações fora de JF têm conquistado cada vez mais fãs, ampliando o desempenho profissional da banda.
Outra referência na cena do samba local, o Bombocado também ultrapassa fronteiras. O grupo foi formado em junho de 2007, quando Aurélio, Raphael e Nelson resolveram se reunir com outros amigos aos finais de semana para tocar algumas músicas. A ideia deu tão certo, que o grupo começou a fazer shows em toda Zona da Mata e no Rio de Janeiro com apenas dois anos e meio de banda. Atualmente, grande parte da agenda de shows do grupo é formada por cidades fora daqui, como Santos Dumont, por exemplo, que todo domingo recebe o Bombocado.

Nelson, Aurélio, Guilherme e Raphael | Hercules Rakauskas
De acordo com Aurélio Ciuffo, vocalista do grupo, a plateia é sempre muito receptiva. A maioria das pessoas que acompanham o trabalho do Bombocado são adolescentes e universitários. Muitos deles, de cidades próximas a Juiz de Fora. “Assim, em muitas das cidades que visitamos aqui perto, temos uma propaganda positiva. Eles nos acolhem muito bem e podem sempre esperar um grande espetáculo.”

Bombocado se apresentando no Cultural | Hercules Rakauskas
Mistura de gêneros
Quando o ritmo é tipicamente brasileiro, as músicas geram curiosidade no público internacional. E foi assim que o Só Parênt – que faz uma mistura de forró com reggae – recebeu os primeiros convites para tocar em outros países. “Através das nossas redes sociais, sempre vimos o interesse de pessoas de outros lugares em nosso trabalho. A partir dessa percepção, começamos a procurar soluções que ia viabilizar nossa ida para outros lugares”, explica Gustavo Villanova, baterista do grupo.

Grupo Só Parênt em clima descontraído | Divulgação
Quando o Só Parênt foi à Europa pela primeira vez, o destino foi Portugal e Holanda, com quatro shows. De lá, o grupo já voltou com vários convites para um próximo roteiro de apresentações. “A segunda turnê aconteceu um ano depois, com um público sedento por dança. Fizemos 12 shows, em cinco países: Portugal, França, Rússia, Noruega e Alemanha. Ver pessoas de diferentes nacionalidades cantando nossas músicas foi uma das sensações mais incríveis que já vivemos nesses 13 anos de história.” Para Gustavo, pegar estrada é a parte mais gostosa do trabalho, em que a sintonia entre os integrantes fica mais evidente ainda.
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