top of page

Uma rodoviária no meio do caminho

  • Rafael Campos
  • 15 de mar. de 2016
  • 3 min de leitura

Foram três anos passando pelo mesmo caminho. Desde a aprovação para o Colégio Técnico Universitário (antigo CTU), que fica no Bairro Fábrica, até me formar em Eletromecânica no instituto, tive um contato diário com a rodoviária de Juiz de Fora, quando fazia o tão esperado caminho de volta da escola.

Até que a ida de casa para o colégio era perto, na nem sempre pontual saída de seis e pouca da manhã. Da Avenida JK, na altura da Cidade do Sol, até a rodoviária não passa de 20 minutos, nos quais o sono era mais do que presente no coletivo. Perto da parada, na esquina onde sempre ficava um sinal da cruz, à frente da Igreja Nossa Senhora das Cabeças, já era possível avistar a rodoviária.

O primeiro contato era rápido e o estado sonolento só dificultava um olhar mais aprofundado. Uma coisa era certa, me deixava curioso ver o espaço destinado à vistoria de veículos do lado da rodoviária. Pensava, “um dia vou ali”, e isso até aconteceu, mas não vem ao caso. A travessia do ponto de ônibus para os fundos da rodoviária era sempre com uma “corridinha” e da chegada ao meio fio até começar a subir na passarela, só observava a saída dos ônibus de viagem e sujeira sempre presente no chão. O restante do caminho até o colégio era de costas para o terminal.

Depois de um dia sempre longo, de muita conversa e nem sempre tanto estudo, o caminho de volta me reservava a aventura de passar por dentro do terminal rodoviário. A entrada era a mesma do primeiro contato da ida: os fundos. Deixar de ir ao banheiro no CTU, por preguiça era sempre uma escolha errada. O “vou deixar para ir em casa” nunca se cumpria, o que gerava o contato com um dos primeiros elementos que podia ver ao entrar na rodoviária: o desanimador banheiro. A catraca de entrada sempre proporcionava uma brincadeira, seja por passar sem rodar ou por rodar mais de uma vez, apesar de idiota, quem nunca? A pequena diversão dava lugar ao incomodo total. Naquela época, não tinha um lugar daquele banheiro que não dava nojo, sem contar com o cheiro, que beirava o insuportável. Tenho que admitir que os escritos na parede me faziam rir, um melhor que o outro. Apesar de tudo, o nojo era compreensível por seguir o roteiro dos “banheiros de rodoviária”.

Mas vamos ao restante do caminho. Sempre pela direita, com uma superstição que me persegue, algumas coisas me marcavam. Primeiro uma espécie de fretadora ou algo parecido, que era do pai de uma antiga amiga da escola, que, aliás, nem tinha muito contato, porém o nome do estabelecimento ser inspirado no sobrenome da família sempre me chamou a atenção. Dali em diante, um corredor de vendas de bilhete. Para passar o tempo, ler os locais de destino nas placas dos em cima dos caixas era um bom costume. Das lanchonetes, também do lado direito, só apreciava o cheiro gostoso dos lanches, afinal, o alto preço e saber que faltava pouco para chegar em casa desanimavam. Passava o corredor que dava para o embarque, com ele se aproximava o bebedouro, que usava com bastante frequência. Ali, sempre observada um tipo de jardim ou área de fumante, em um formato redondo que tinha em seu centro uma enorme caixa d’água, com a mesma forma.

O restante era bem parecido, lojinhas de lembranças, outras lanchonetes. O que mais atraía era a banca de jornal, quase na saída, onde era quase uma obrigação para ler as manchetes esportivas, no fim do dia, apesar de já saber todas. Já conseguindo ver a saída da rodoviária, um balcão que vendia cordões, anéis e chaveiros, também era outra parada, apesar de nunca ter comprado nada por lá. A pequena capela, com detalhes bem bonitos, antes de chegar aos táxis, era o ponto final.

Então, a rodoviária acabava. Passava a faixa de pedestres, um corredor de ladrilhos, uma árvore, que sujava o chão todo, mais uma travessia para os transeuntes, até ter de atravessar a rua para chegar ao ponto de ônibus. Era a hora da despedida. Sentado ou não, sempre de frente para o terminal, o grande letreiro escrito “Rodoviária de Juiz de Fora”, em azul, era destaque. O relógio quase imperceptível quase no meio da rodoviária ajudava a ver a hora e perceber que era hora de partir. Chegava o momento de zarpar quando chegava aquele coletivo azul, sentido Zona Norte. Em muitos deles uma duas palavras em destaque: via rodoviária.

 
 
 

Comments


POSTS RECENTES:
PROCURE POR TAGS:

© 2015 por Uma Pá de Histórias, Criado com Wix.com

bottom of page