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Além dos lanches

  • Madara Maciel
  • 10 de mai. de 2016
  • 3 min de leitura

A vida corrida de graduandos. Dormindo tarde para fazer trabalho, sempre ativando o modo soneca do despertador com pequenos soquinhos, na intenção de se ter paz e, aproveitar até o último minuto enrolado no cobertor. Pela manhã, arrumar correndo, pegar o ônibus lotado.

Chegar na Faculdade em cima da hora sem ao menos ter lembrado de fazer a principal refeição do dia. Pedidos: Um pão de queijo, um salgado, um café. Todos os dias, em vários horários, ali está ela, a salvação dos alunos: a cantina. Já virou rotina, se o apetite abre, o pensamento da vez é todo dela. Entre uma aula e outra, a escapulida para saborear algo é certeira. Este espaço físico que comporta cadeiras, mesas, alimentos, sucos, balas e afins, já foi cenário de várias histórias; refúgio para vários perdidos. Encontros e desencontros. Situações tristes e também inusitadas.

Anota o pedido, recebe o dinheiro, conta moedinhas e dá o troco. Essa é Maria da Glória de Deus, mais conhecida como Dona Glória, atendente da Cantina da Faculdade de Direto da UFJF. Baixinha, com os cabelos curtos e ondulados, óculos moderno, mas que deixa com ar de vó. É dona de um sorriso acolhedor para quem é atendido por esse doce de pessoa. Ela conhece bem quem passa por ali todos os dias. Entre um sorriso e outro, Dona Glória conta que já passou por várias situações nesse tempo que trabalha no caixa do estabelecimento. Ela lembra de um aluno sério e sistemático, que pedia a mesma coisa de cabeça baixa sempre: café. Em um dia atípico, o jovem não pediu o de costume, e pediu um beijinho. “Eu fiquei assustada porque ele era sério e sempre pedia o café de cabeça baixa”. Mas a senhora miss simpatia da cantina não estava sozinha. Uma aluna estava ao lado do rapaz quando, inesperadamente, ela ficou na pontinha do pé, esticou os lábios e deu-lhe um beijo em seu rosto. “Pronto. Esse é de graça, não precisa pagar”, o ar de tensão evaporou da cantina e a descontração ganhou lugar.

Uma jovem agasalhada, magrinha, cabelos cor de chocolate e cacheado chega na UF para assistir as aulas da Faculdade de Serviço Social. Das oito às dez da manhã, as primeiras horas do dia se vão e o apetite parece crescer. É hora de convidar as amigas para forrar o estômago. Joayce, de 22 anos, se identifica com a cantina da Educação. Chegando no local de destino, há uma variedade de opções: um mico disfarçado, risadas exageradas e, até, comemorações de aniversário. Mas, nunca, nunca, um lanche resumirá a preciosa cantina. As amigas sentam-se distribuidamente em uma das mesas quadradas, cor de creme com cadeiras vermelhas. Conversas com gosto de pão de queijo e cheirinho de chocolate quente, mergulhadas em sorrisos. As energias são recarregadas para a segunda etapa da aula. Na verdade, o dia parece ter começado ali, no pequeno diálogo entre as meninas, acompanhado de um delicioso lanche que avisa para o corpo “o dia enfim começou”. Após a pequena visita à cantina, o bom-humor impera. Os professores, a aula e os colegas de turma parecem mais agradáveis.

Do lado oposto, Juliana, estudante da Engenharia de produção aproveita o espaço da cantina para estudar, descansar. O estabelecimento se transforma em uma válvula de escape. Menina baixa, magra e negra, senta-se em uma das cadeiras com os livros apoiados sobre a mesa, administra o tempo entre o intervalo de uma aula e outra. Para a estudante, o lugar é referência quando marca um encontro com algum amigo ou amiga. “

Na cantina da Engenharia... me encontra lá”. Quando o clima da semana de prova está muito tenso, ir lanchar na companhia de alguém e jogar conversa fora é a melhor solução. Professores circulam por lá, fazem seu pedido, saboreiam o lanche e, inevitavelmente, respondem, solicitamente, dúvidas dos alunos. Situações engraçadas também acontecem ali. A amiga que acaba de comprar o salgado, ajeita o guardanapo, suspira e movimenta a mão para levar o salgado a boca. Porém, o que ninguém esperava: o salgado cai, e a todos presentes na cantina não resistem e soltam gargalhadas, garantindo o bom-humor do dia.

As famosas cantinas, espalhadas por todas as faculdades dentro da Universidade, presenciam o que, talvez, ninguém saiba e guarda em sigilo: o lanche é o atrativo principal, mas os encontros promovidos levam os alunos a vivenciarem situações além, como um tempero da casa. Divide a vida acadêmica entre a diversão e o conhecimento. Marcam entradas e saídas, histórias vividas.

Foto por Danilo Pereira

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