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Precisamos falar sobre Siririca!

  • Isabella Paiva
  • 21 de jul. de 2016
  • 4 min de leitura

Você já ouviu falar em punheta, certo?

Apesar da sexualidade ser um assunto pouco debatido dentro das mídias tradicionais, a famosa punheta não é tão martirizada quanto a nossa querida siririca. Um garoto, no início de sua vida sexual, com os hormônios à flor da pele, é muitas vezes incentivado a se conhecer e se dar prazer. Mas e a mulher? Ela recebe os mesmos estímulos?

Pensando em todo esse contexto, Stephanie Sarley, uma artista americana contemporânea, utiliza frutas para demonstrar a masturbação feminina, quebrando o paradigma de que sexo - mesmo que com frutas - deve ficar só entre quatro paredes!

Para entender melhor e desconstruir de uma vez esse tabu, nós conversamos com a Mylena Melo, estudante de Jornalismo da UFJF que ministrou em 2015, junto com Larissa Brandão, uma oficina de siririca no Encontro Nacional de Estudantes de Comunicação (Enecom), em Salvador.

Uma pá: De onde surgiu a ideia de ministrar uma oficina de siririca?

Mylena Melo: Eu estava no Enecom ano passado. Nesse evento, todas as oficinas são inscritas em editais, e uma mulher havia inscrito a oficina de siririca. Quando cheguei lá, fiquei sabendo que mais de 50 mulheres haviam se inscrito pra essa oficina, e que a pessoa que iria ministrá-la não tinha conseguido ir ao evento. Na hora, pensei “essas mulheres não podem ficar sem esse espaço”, e resolvi realizar a oficina. Daí foi uma loucura pesquisando várias coisas na internet sobre o tema, e o resultado foi super bacana. Falei um pouco sobre a importância de conhecer o próprio corpo, de entender seu prazer para ter autonomia sobre o próprio corpo, e transformamos o espaço em uma grande conversa em que cada uma trocou suas experiências sobre masturbação. No começo, todas estavam um pouco assustadas com a ideia de que poderia ser uma oficina prática, e eu cheguei falando “gente, a ideia é conversarmos sobre a masturbação sem tabus, mas se vocês quiserem que seja uma oficina prática, avisem, porque se todas estiverem confortáveis com isso, a gente faz também”. Acabou não rolando uma parte prática, porque nem todas se sentiam confortáveis pra isso - o que é extremamente compreensível, já que o corpo feminino é um tabu até pra nós mesmas, mas o debate foi sensacional e uniu muito as mulheres.

Uma pá: Se você pudesse descrever a sensação de gozar para uma mulher que nunca conseguiu alcançar o prazer, qual expressão você usaria?

Mylena Melo: Entorpecente, no melhor sentido da expressão. Ter prazer consigo mesma é libertador, mesmo que no começo pareça um pouco confuso. Nós não somos estimuladas a nos tocar, e por isso as primeiras experiências de masturbação podem não ser tão prazerosas, porque você não se conhece ainda. Mas aos poucos vai descobrindo, explorando seu corpo para além da boceta, e percebendo que é uma delícia. E fica a dica: é ótimo para insônia e cólicas menstruais!.

Uma pá: O que leva a sociedade a considerar a masturbação feminina como tabu?

Mylena Melo: A sociedade funciona dentro de alguns modelos que guiam seu funcionamento. Nossa sociedade, ocidental, por exemplo, é majoritariamente baseada no capitalismo e no patriarcado, estruturas que definem nossos papéis sociais dentro das atividades que compõem nossa maneira de viver e se relacionar. E o patriarcado, estrutura antiga e muito bem enraizada nos nossos costumes, encara o corpo feminino, ao mesmo tempo, com repulsa e desejo. Se, por um lado, o patriarcado coloca a mulher em uma posição de submissão, como aquela mulher "recatada" que deve se preservar, por outro lado, ele também coloca a mulher em uma posição de "serva sexual" do imaginário masculino. A expressão parece um pouco pesada, mas se analisarmos, por exemplo, a pornografia (que hoje tem papel fundamental na nossa educação sexual em um momento em que vivemos 100% conectados), perceberemos que na grande maioria dos casos a mulher estará ali apenas para satisfazer o desejo masculino, e não o seu próprio desejo. Sem falar que, no meio disso tudo, fica a ideia de que a mulher só sentirá prazer de verdade com um pênis e penetração, o que com certeza não é verdade. Inclusive, muitas mulheres só conseguem atingir o orgasmo através do sexo oral, porque assim os muitos pontos erógenos que compõem a vulva podem ser estimulados. Aliado a essas referências midiáticas, a nossa própria criação nos leva a sentir nojo do próprio corpo: quando nos dizem que menstruação é sangue sujo, quando nos dizem que vagina fede, e esse tipo de coisa, nós construímos barreiras para acessar nossos próprios corpos. E tudo isso garante ao patriarcado mulheres que não conhecem seus prazeres, que não conversam sobre eles com outras mulheres, e que por consequência estarão subjugadas à relações sexuais muito limitadas aos desejos de um parceiro homem, que ao contrário da mulher, tem sua sexualidade explorada desde a infância. Nesse cenário, é lógico que a masturbação será um tabu, porque ela certamente representa um risco ao patriarcado quando mulheres estão descobrindo sua autonomia até mesmo pra gozar.

Nossa dica: se ainda tiver dúvidas sobre como se masturbar na prática, veja esse vídeo:

Então, já está pronta para tentar se sentir mais livre? :-)

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