Vadias e Piriguetes: entenda quem são as libertárias sexuais
- Veronica Bernardino e Gabriela Helena
- 21 de jul. de 2016
- 3 min de leitura
Uma forma de controlar a sexualidade das mulheres é alimentar a insegurança relacionada ao corpo. Mulheres que gostam de exibir as “curvas” são apontadas frequentemente como “pessoas que não se dão valor”. Daí nasce o rótulo piriguete, com conotação pejorativa, o que serve para menosprezar as mulheres. É o que acredita a estudante Michelle Morli. “Piriguete é uma palavra machista. O sentido da palavra é uma pessoa que não se dá valor, ao meu ver, é ao contrário. É a pessoa se dá tanto valor que é segura o suficiente pra se libertar e realizar seus desejos quando bem entender”, afirma Michelle.
Encontrar mulheres que são classificadas como piriguetes é simples. É na balada que elas procuram divertimento, desde dançar até encontrar alguém para satisfazer seus desejos. A psicóloga Danniele Freitas acredita que o instinto feminino faz com que as mulheres, geralmente, gostem de ser admiradas e elogiadas. E a escolha da roupa tem um papel fundamental. “Muita gente sai de casa para balada, por exemplo, esperando ser azarada. Então, se o decote for uma forma de chamar a atenção, eu vou usar. Entende?”.
Atrelada ao rótulo piriguete está a máxima “mulher bonita tem que ser burra”. Esse pensamento reproduz a ideia de que as mulheres que não são “recadadas e do lar” necessariamente sejam intelectualmente limitadas. A universitária Carolina Oliveira sempre gostou de se preparar para festas, mas nunca largou os livros “Sempre gostei de ir para as festinhas dançar, de me arrumar e ao mesmo tempo sempre fui a menina da literatura”, diz Carolina, que afirma ser a prova de que piriguete também se apaixona. “Quando encontro alguém que valha a pena, me jogo de cabeça e me entrego de verdade”.
O olhar machista não faz as mulheres reféns apenas no ambiente social, mas principalmente no ambiente de trabalho. Já é curioso o fato de os cargos de liderança não estarem sob o comando feminino. Os assédios e julgamentos relacionados à liberdade do corpo também estão no topo da lista quando o assunto é reconhecimento profissional. Afinal, é preciso ter ‘vida dupla’ para ser feliz? Talvez não seja necessário, mas não é o que percebemos no desabafo da estudante Maria Carla Rúbio:
“Eu queria muito dizer que o que eu faço no âmbito pessoal não tem impacto no profissional. Queria dizer aqui que consigo ser livre ao ponto de não pensar em qual relevância as minhas atitudes vão ter nas opiniões dos meus colegas de trabalho. Mas não é bem assim... Hoje, por mais que digamos aos quatro ventos que ‘o que eu penso é a única coisa que importa’ ou ‘a opinião dos outros não interfere nas minhas decisões’, na vida profissional dependemos dos colegas de trabalho, tanto em entregas, como também na boa vontade em trabalhar em equipe para ajudar e dar uma mãozinha ‘extra’ quando necessário. Infelizmente essas coisas podem ser influenciadas pelo que as pessoas pensam de você”. Ela acredita que a sociedade ainda pensa de forma machista, mas que existem pessoas esclarecidas o suficiente para não deixar que as atitudes numa festa ou num bar interfiram na imagem profissional. “O que tem a ver transar com um cara no primeiro encontro, com meu desempenho no meu trabalho? O que tem a ver beijar várias pessoas com a qualidade do que entrego?”. Maria Carla considera ainda que os ideais feministas podem influenciar no profissional, principalmente se a empresa não tiver valores parecidos. “Uma vez, durante um avaliação interna, ouvi que deveria ‘tomar cuidado para não ser mau exemplo fora da empresa’. Nunca me senti diretamente prejudicada por qualquer ação da vida pessoal que impactasse no meu trabalho, mas me considero sortuda por conviver com pessoas de mente aberta”.
V de Vadias
Outro termo que já vem carregado historicamente de uma conotação negativa é o “vadia”. Se perguntássemos aos nossos avós quais as piores ofensas para se dizer a uma mulher, com certeza o termo estaria entre elas. Depois de muitas humilhações e incessantes discussões, os movimentos feministas atrelaram o vadia à luta política, muito em repulsa ao fato de as mulheres serem chamadas de vadias por dizerem “sim” ou “não” aos homens.
Esse movimento começou há alguns anos no Canadá, após um policial ter considerado como culpadas as vítimas de casos de estupros em Toronto, justificando com o fato de elas estarem usando roupas que não eram “adequadas”. Essa história ainda não é mundialmente conhecida, mas a luta é constante e tem adquirido cada vez mais visibilidade. A humanidade, no geral, insiste em querer ditar sobre a liberdade do indivíduo. Vadias e libertárias - ou mesmo piriguetes, as mulheres empoderadas de si mesmas precisam de muito pouco para acabar com os paradigmas da cultura conservadora. Afinal, o lado bom da vida está em ser vadia com ‘V’ em caixa alta.
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