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Eu sou gorda. E daí?

  • Madara Maciel e Guilherme Freire
  • 19 de mai. de 2016
  • 3 min de leitura

Pessoas gordas falam da sua relação com os alimentos

Foto: Madara Maciel

“Eu sou gorda! Não tenho biotipo magro”. Gabriela Gonçalves, 27, estudante de Farmácia da UFJF, não tem vergonha do seu corpo. Para ela, a palavra gorda não é sinônimo de algo ruim. E é melhor que não tentem elogiá-la, afirmando que ela possui um “rosto muito bonito”. Têm que aceitar todo o seu corpo. Nem sempre foi assim, no entanto. Como muitas mulheres, Gabriela era uma adolescente insegura. Seu corpo era motivo de chacota entre colegas. O ato de sentar à mesa e comer era a garantia de alguns quilos a mais e novos apelidos nos ambientes que frequentava. Rolha de poço era um deles. Durante um certo período de tempo, ela só se alimentava de alface e tomate. A tal salada das dietas. A fita métrica era a sua companheira constante.

Com o tempo, Gabriela viu que não valia a pena deixar que os padrões influenciassem tão negativamente em sua vida. Ela passou por um período de depressão por volta dos 13 anos e isso afetou muito a sua saúde. Resolveu mudar. Hoje é uma pessoa que tem uma relação saudável com o corpo. E com o prato. “Eu não sou uma pessoa 100% segura, mas agora eu tenho consciência que esse é um padrão imposto pela sociedade”, afirma a estudante. Ela garante que sua alimentação melhorou, apesar da rotina movimentada. Atualmente não se priva de comer o que gosta para ter um corpo que “conquiste as pessoas”. Ter contato com o feminismo a fez perceber que não precisava se adaptar a nenhum padrão estético. A estudante participa de diversos movimentos sociais e acredita que, para mudar, as pessoas precisam estar dispostas a se desconstruir. O trabalho começa de dentro para fora, acredita ela.

Comer é um exercício de prazer, para alguns. Para outros, é estar refém dos olhares alheios. Gabriela afirma que as pessoas têm uma falsa preocupação com a saúde das pessoas gordas. “Ninguém se preocupa se uma pessoa magra está com colesterol alto ou não, por exemplo. As pessoas gordas tem uma predisposição a ter doenças sim, mas isso não quer dizer que elas terão. É questão de adaptar a dieta”.

A feminista vai além. Para ela, há quem ganhe com a legitimação de certo ideal estético: a indústria da beleza, que lucra com a necessidade de se consumir mais e mais produtos para conquistar o corpo perfeito. “Na verdade, este é um padrão fictício. Todos estão fora do padrão, porque ele é inatingível”.

Foto: Arquivo pessoal

A estudante de Jornalismo da UFJF, Thaís Mariquito, 21, explica ter uma vida saudável, mas não restringe em excesso sua alimentação. “Minha vida mudou muito porque eu aprendi a não me importar tanto com o que os outros pensam. E, com isso, comecei a viver ao invés de ficar preocupada com a opinião alheia”. Para a universitária, essa foi a etapa mais difícil do processo de aceitação. Ela conta inclusive que vivia dilemas ao comer em público. “Se estava comendo algo saudável, imaginava as pessoas pensando ‘gorda desse jeito, tem que comer só alface mesmo’ e se eu comia algo mais calórico, imaginava o julgamento das pessoas de ‘por isso que é gorda desse jeito’”.

Foto: Arquivo pessoal

A moda sempre foi a melhor forma da estudante se expressar. Por sugestão das amigas, ela decidiu criar o blog Praticamente perfeita, onde compartilha experiências diversas com a intenção de ajudar as pessoas a reencontrar a autoestima.

A jovem relata que já viveu algumas situações constrangedoras. Uma delas foi dentro de sua própria família, quando ouviu da avó que deveria emagrecer se quisesse que alguém gostasse dela. Outra, quando postou o documentário Fattitude em seu blog. “Eu recebi tantos comentários gordofóbicos que não aguentei. Apaguei o vídeo. Eles diziam que gordos eram nojentos, desperdício de oxigênio”.

Foto: Arquivo pessoal

Thaís acredita que o preconceito é real e se manifesta nos detalhes cotidianos, por exemplo, no fato de não ter roupa acima do número 44 na grande maioria das lojas. “Se uma gorda vai ao médico reclamando de dor de cabeça, com certeza vai sair de lá com pelo menos dois nomes de endocrinologistas, nutrólogos e nutricionistas, ainda que a dor seja causada por qualquer outra coisa. O preconceito está na imensidão de piadinhas sobre gordura, balança, espelho. Está na ausência de gordxs em novelas, filmes e séries, ainda que no Brasil mais da metade da população esteja acima do peso ideal”.

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